SOBRE A VELA DE ESTAI




A 21 de Janeiro deste ano de 2006 passaram dez anos sobre estas colaborações no DI!

(Dei-me conta disso agora, nesta muda de imagem que o DI está a operar, e no revirar consequente de papeis).

Chamaram-se, a princípio, “Molduras da Cidade”, e inseriam-se num esforço de divulgação do que temos, do que somos e, sobretudo, do que podemos ter e ser, se quisermos.

Essa foi e tem sido, aliás e sempre, a pedra de toque desta página, pois a recordação de nada serve se não for raiz, e a raiz para nada presta se não apoiar um tronco, folhas, flores e frutos.

É essa visão do património como recurso, tornada memória irrequieta, chicote inconformado sobre o quotidiano cinzento que me fez um dia mudar o nome desta colaboração (foi a 10 de Janeiro de 1999) para “Vela de Estai”.

Lembro-me da cara, e sobretudo do sorriso, do Zé Lourenço quando o leu e me disse “Este, tu nunca mais trocas!”. 

Acho que ele tem razão, embora concorde com os que dizem que nunca se deve dizer “nunca”.

Mas porque a Primavera é o momento adequado de retornar às raízes para crescer melhor e mais, se possível, aqui fica em transcrição o que foi o texto de Janeiro de 1999.

Não é porque seja um “texto histórico”, mas exactamente porque não o é! Porque os desafios são os mesmos! Porque o futuro aí está, à espera!

"Disseram mal!

Eu explico.

A questão tem a ver com o título escolhido para esta nova colaboração no DI.

Durante meses e meses houve gente que disse que os temas das molduras eram bonitos, mas que a "coisa" era demasiado angrense e só angrense. Depois, há sempre uma altura para mudar.

Com estas razões: mudar de rumo e abrir este cantinho a outras coisas que não só Angra, chegou-se ao título: Vela de Estai.

Aí é que disseram mal!

- Vais ver que ninguém sabe o que é!

- Com esse título ninguém lê, de certeza.

- O que esta gente quer é futebol, e umas festas de vez em quando!

(não vale a pena dizer mais)

Ora acontece que eu não acho.

Não acho nada mal, para começar, que se veja um jogo de futebol e continuo a ter pena da Sky Sports ter desaparecido do mapa.

Também não acho porque nunca me dei mal com a sinceridade.

Igualmente não acho, porque a cultura das pessoas não é toda igual. Uns sabem dumas coisas outros doutras e continuo a gostar muito mais de falar com quem realmente pesca, lavra, tem vacas, sabe calcetar, ou pôr um tecto, ou fazer uma parede (porque esses sabem mesmo o que custa!) do que falar com quem, embora cheio de ciência, nem saiba sujar as mãos e tenha horror ao trabalho, qualquer que ele seja, misturado com umas tardes de sol e de descanso.

Também se podia dizer que a ignorância nunca fez mal a ninguém, o que faz mal é não querer aprender, mas aí já era "dar o braço a torcer".

De qualquer modo; 

Para uns e outros; 

Porque a ideia aqui não é dizer mal de ninguém;

Porque só se engana quem nada faz;

Aqui vão as razões do título, oferecidas aos que param neste ponto do DI para ler, gostemos ou não, uns mais do que os outros, de festas e de futebol:

Chama-se vela de estai a uma vela de forma triangular, que se prende a um cabo de estai, entre os mastros de um navio. Estais são os cabos que aguentam a mastreação, segurando-a para vante (a proa).

Essas velas são as últimas a ser arriadas quando há tempestades, havendo sempre pelo menos uma, (às vezes chamada polaca e que é presa no estai da polaca), colocada muito à proa, de modo a garantir a possibilidade de governo do navio, pois sem qualquer vela o navio fica à mercê da tempestade.

Foi com esse sentido de futuro, de segurar para a frente, de navegar apesar da tempestade, de ter um rumo a seguir, que surgiu o título.

Porque o futuro não acaba amanhã e é ele que importa! O nosso e o dos nossos filhos!"