CALEIDOSCÓPIOS - COLECCIONAR RECORDAÇÕES, MEMÓRIAS E COISAS
Desta vez o rumo é outro, e bem diferente.
Primeiro vamos ao contexto.
Mesmo com todos esses cuidados e avisos, não perdia oportunidade para ir mexericar a gaveta onde estava o tubo negro, com extremos de metal, e pedir para olhar, outra e outra vez, rodando lentamente ou mudando de posição e vendo os pedaços coloridos a mudar também e a compor e recompor, vezes sem conta, a imagem de fundo.
De um ponto de vista técnico um caleidoscópio é coisa simples. Do ponto de vista dos materiais ou resultados isso já é outra história. Tanto pode ser um jogo de pedacinhos de vidro coloridos como chegar a ser feito de esmeraldas e outras pedras semipreciosas, talvez com pequeninas lamelas de oiro, por entremeio, tudo dependendo do destinatário e do fabricante.
Metem-se três lamelas de espelho ou de metal polido, ao comprido, dentro de um tubo, de modo a formarem um polígono de base triangular. Num extremo coloca-se um vidro, fosco ou transparente, ou uma lente, sobre o qual, pelo lado de dentro, se põe as tais coisas coloridas e brilhantes, confinadas por um segundo vidrinho, mas com espaço de liberdade para se moverem, e, no outro, faz-se uma abertura redonda, com meio centímetro ou menos, de diâmetro, num cartão que fecha o outro extremo, para se poder olhar.
Consolidado todo o sistema, é só apontar para a claridade, espreitar pela abertura, e ver como os pedacinhos de cor se multiplicam em modo simétrico, por via da reflexão nos tais espelhos.
Ora... acontece que, em 1 de Janeiro de 1980, tivemos o grande sismo na ilha Terceira e perdi o rasto ao caleidoscópio de meu pai. Até hoje...
Há coisas, porém, que ficam, e uma delas foi a memória das vezes em que espreitei por aquele tubo de maravilha. Outra foi a saudade de poder olhar, e parti em busca.