CALEIDOSCÓPIOS - COLECCIONAR RECORDAÇÕES, MEMÓRIAS E COISAS


 Desta vez o rumo é outro, e bem diferente.

Primeiro vamos ao contexto.


Caleidoscópio 1. Cartão, papel e vidro. 20 X 4,2 cm. França. Séc. XIX 


Quando era pequeno maravilhava-me com um caleidoscópio que meu pai tinha. Só o podia usar ao pé dele e era constantemente avisado para ter cuidado, porque aquilo era frágil e podia partir-se ou desmontar-se.

Mesmo com todos esses cuidados e avisos, não perdia oportunidade para ir mexericar a gaveta onde estava o tubo negro, com extremos de metal, e pedir para olhar, outra e outra vez, rodando lentamente ou mudando de posição e vendo os pedaços coloridos a mudar também e a compor e recompor, vezes sem conta, a imagem de fundo.


Caleidoscópio 2. Cartão, papel e vidro. 11,3 X 2,5 cm. Publicitário. Espanha. Séc. XX

De um ponto de vista técnico um caleidoscópio é coisa simples. Do ponto de vista dos materiais ou resultados isso já é outra história. Tanto pode ser um jogo de pedacinhos de vidro coloridos como chegar a ser feito de esmeraldas e outras pedras semipreciosas, talvez com pequeninas lamelas de oiro, por entremeio, tudo dependendo do destinatário e do fabricante.


Caleidoscópio 3. Cartão, papel e vidro. 23 X 5 cm. França. Séc. XIX
Ao contrário dos habituais caleidoscópios, este é de secção triangular
e apresenta o vidro de iluminação do sistema em posição lateral. 
Notar a faixa tricolor francesa.

Metem-se três lamelas de espelho ou de metal polido, ao comprido, dentro de um tubo, de modo a formarem um polígono de base triangular. Num extremo coloca-se um vidro, fosco ou transparente, ou uma lente, sobre o qual, pelo lado de dentro, se põe as tais coisas coloridas e brilhantes, confinadas por um segundo vidrinho, mas com espaço de liberdade para se moverem, e, no outro, faz-se uma abertura redonda, com meio centímetro ou menos, de diâmetro, num cartão que fecha o outro extremo, para se poder olhar.

Consolidado todo o sistema, é só apontar para a claridade, espreitar pela abertura, e ver como os pedacinhos de cor se multiplicam em modo simétrico, por via da reflexão nos tais espelhos.

Ora... acontece que, em 1 de Janeiro de 1980, tivemos o grande sismo na ilha Terceira e perdi o rasto ao caleidoscópio de meu pai. Até hoje...

Há coisas, porém, que ficam, e uma delas foi a memória das vezes em que espreitei por aquele tubo de maravilha. Outra foi a saudade de poder olhar, e parti em busca.


Caleidoscópio 4. Cartão, papel e vidro. 40,5 X 4,5 cm. França. Séc. XIX
As imagens variam porque no topo existe uma lupa que distorce 
o que existe no exterior, criando um efeito mais complexo.


Como não há fome que não dê em fartura, acabei por reunir, agora, e os últimos chegaram ontem, quatro caleidoscópios, todos diferentes e que, do ponto de vista tecnológico, formam um ramalhete variado e que se completa, bastante bem.

Aqui ficam os quatro. A saudade do outro continua, mas o poder satisfazer o olhar é novamente possível.


Caleidoscópio 4. Vídeo de observação.