Durante décadas conheci, aqui no jardim da Quinta do Espírito Santo, uma nogueira. Velha, conservada principalmente porque dava sombra e aconchego, ia deixando cair algumas nozes, no Outono, que eu transportava, em menino, num camião de plástico comprado por amigos, no BX da Base das Lajes.
Com o temporal que se abateu sobre os Açores, em Fevereiro de 1986, sob o nome de furacão Alex, a coitada caíu, levando consigo parte de um muro e alguns vasos de barro que lá estavam, e acabou por ser retirada, de vez. Ficou uma filha, saída de noz esquecida num canteiro do jardim. Removidos os restos da "mãe", plantei a filhota no mesmo lugar, que hoje é uma respeitável senhora de vários metros de altura e também deixa cair algumas nozes, poucas mas boas.
Juglans regia L. - Nogueira comum. Jardim da Quinta do Espírito Santo - 2021
Ora aconteceu que, num certo Natal dos anos 1970, alunas de pintura do Art Hut, da comunidade americana na Base das Lajes, ofereceram a meu pai - Francisco Coelho Maduro Dias - uma caixinha com diversos frutos secos. Comemos quase tudo, mas restaram alguns, entre os quais dois, que alguém dissera serem castanhas do Canadá. Acabaram guardados e, depois, plantados num pomar da Quinta, fechado entre paredões, mais a título de experiência do que acreditando que viriam a dar alguma coisa de jeito. Se dessem, seriam memórias desses anos.
Afinal as árvores vingaram e cresceram, inundando com muitos e pequenas frutos o chão em redor. Nunca foi coisa que me interessasse comer, até que, neste Inverno entre 2020 e 2021, fruto da pandemia da Covid 19 e do confinamento, me dei ao trabalho. Afinal não são castanhas, mas nozes, coisa fácil de confundir porque, em inglês, ambas as coisas são nuts, e, como a imagem revela, verifica-se que estamos perante duas "jovens" de respeitável tamanho, onde até já vi mochos.
Carya illinoinensis - Nogueira Pecã. Pomar. Quinta do Espírito Santo - 2021
Recolher, descascar e encontrar um uso foi trabalho interessante para entreter os dias e ficam aqui os resultados.
Quem vê os frutos, de longe, parecem muito diferentes, mas quem os abre, com cuidado para não se partirem, descobre que são mesmo irmãs, na forma e no sabor.
Noz da Juglans regia L - Nogueira comum - 2021
Como se sabe, quando estão nas margens da sua zona habitual de conforto, digamos assim, as árvores podem desenvolver-se menos e os frutos das árvores são menores, por via de ser mais frio ou quente demais, menos humidade ou muita água, enfim, por não ser o seu óptimo climático.
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Noz da Carya illinoinensis - Nogueira pecã - 2021
É o caso da noz pecã que, aqui, na ilha Terceira, aparece bem mais pequena que no Illinois, de onde retirou o nome científico, mas come-se e é saborosa, desde que haja paciência para a deixar secar uns dias e a descascar, depois.
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For decades I knew a walnut tree here at the Quinta do Espírito Santo garden. Old, preserved mainly because it gave shade and warmth, it dropped some nuts in the autumn, which I transported, as a boy, in a plastic truck bought by friends, in the BX of Lajes field - Portuguese air force base BA 4.
With the storm that hit the Azores in February 1986, under the name of hurricane Alex, the poor thing fell, taking with her part of a wall and some clay pots that were there, and was eventually removed, for good. There was a daughter, left in a forgotten walnut in a garden bed. After the remains of the "mother" were removed, I planted the chick in the same place, which today is a respectable lady of several meters in height and also drops some nuts, few but good ones.
It so happened that, on a certain Christmas in the 1970s, painting students from Art Hut, from the american community at Lajes Field, offered my father - Francisco Coelho Maduro Dias - a box with various nuts. We ate almost everything, but there were a few left, including two, that someone had said were Canadian chestnuts. They ended up being stored and then planted in a Quinta orchard, enclosed between walls, more as an experiment than believing that they would come up with something. If they did, they would be memories of those years.
After all, the trees avenged and grew, flooding the surrounding ground with many small fruits. It was never something that interested me to eat, until, this winter between 2020 and 2021, the result of the Covid 19 pandemic and confinement, I took the trouble. After all, they are not chestnuts, but walnuts, which is easy to confuse because, in English, both are nuts, and, as the image reveals, it turns out that we are facing two "young people" of respectable size, where I have even seen owls.
Picking, peeling and finding a use was an interesting job to entertain the days and here are the results.
Those who see the fruits, from a distance, look very different, but those who open them, being careful not to break, discover that they are really sisters, in form and flavor.
As it is known, when they are on the margins of their usual comfort zone, trees can grow less and the fruits of the trees are smaller, due to the environment being colder or too hot, because of less humidity or too much water, in short, because it is not its optimal climate.
This is the case of the pecan nut, which here on Terceira Island appears much smaller than in Illinois, from where it got its scientific name, but it is eatable and tasty, as long as you have the patience to let it dry for a few days and to peel it, later.